Luiz Eduardo Baptista, presidente da Sky.
Karime Xavier/Folhapress.
Publicado originalmente no site do jornal Folha de S. Paulo,
em 13/07/2017.
Presidente da Sky prevê acordo com canais e anuncia serviço
de streaming.
Por Nelson Sá de São Paulo.
Ainda ecoa a frase de Luiz Eduardo Baptista, da operadora
Sky, sobre a Netflix, há três anos: "Se começarem a incomodar, podemos
comprar esses caras". Ele diz que era brincadeira, mas ela se tornou prova
da recusa da internet pelo setor de TV paga.
Não mais, informa Baptista. A Sky lança em 2018 um serviço
só pela internet, não de filmes e séries como a Netflix, mas de canais. Uma TV
paga em streaming, formato que vive "boom" nos EUA, com novos
serviços da DirecTV, controladora da Sky, e até do Google (YouTube TV).
O executivo enfrenta questões mais imediatas, como a
ausência de Record e SBT da grade da Sky, em confronto iniciado por elas
"que acabou sendo ruim para todo mundo". Baptista diz que o acordo
está próximo, agora que elas se mostram "flexíveis".
Em entrevista, fala ainda da estreia de novos canais,
possibilitados pelo investimento em infraestrutura.
Folha - Nos EUA, foi lançada uma série de serviços de TV
paga pela internet: DirecTV Now, YouTube TV, Playstation Vue. Já está no radar,
aqui?
Luiz Eduardo Baptista - O DirecTV Now vai vir no ano que vem
para o Brasil. O nosso processo é de lançar lá, ver quais são os
"bugs", os problemas. Na hora em que a qualidade do serviço se
normalizar, vai chegar ao Brasil. Será um produto que você não vai precisar de
equipamento, como hoje. São serviços diferentes, ainda que possa haver
coincidência do conteúdo.
DirecTV Now significa entregar o conteúdo linear [canais]
por meio de streaming. O desafio no Brasil é que a qualidade da banda larga é
uma em São Paulo e Rio e não é a mesma no resto do país. Será mais desafiador
que nos EUA, que tem infraestrutura.
A Sky investiu R$ 1,3 bi em novo satélite e centro de
transmissão. Quando foi tomada a decisão o país estava melhor?
Se a gente não tivesse decidido em 2013, estaria em maus
lençóis hoje, independentemente de como o Brasil esteja. A empresa está aqui há
quase 21 anos e pretende ficar outros tantos. Para o futuro, honestamente, não
sei se a gente vai ter outro satélite, porque mudou tanta coisa, não tinha Google,
Facebook, iPhone. Mas ele, combinado com o centro, permite acabar até o fim do
ano com o hiato entre o sinal SD [definição padrão] e o HD [alta definição]. E
o novo satélite dá mais espaço, é como se você tivesse uma sala mais ampla.
Serão quantos canais novos?
Cinquenta até o fim do ano, canais que as pesquisas
apontaram que a gente deveria ter. Por exemplo, Dog TV. A gente não se toca,
mas o Brasil é o segundo mercado em produtos "pet". Claro que é
nicho, como é na TV por assinatura. Outro é o Vice, com conteúdo para
"millennials", com o qual a Globo também fez um acordo, para se
modernizar.
Em que pesem todas as dificuldades que a gente tem no país,
a vida vai continuar. A gente acredita no filme do Brasil, não está tomando
decisão baseado na foto do Brasil.
Quanto aos canais do Simba, Record, SBT e RedeTV!, houve
avanço nas negociações?
Houve. Primeiro se declarou guerra para depois vir
conversar. A tendência é de aproximação. A gente está otimista de que possa
chegar a um acordo. O novo interlocutor, determinado por eles, é egresso de TV
por assinatura. Entende que existe imposição legal para poder cobrar do
cliente. Que temos limitações, que não é simplesmente a vontade de pagar ou
não. Se você perguntasse dois meses atrás se isso chegaria a bom termo, eu
diria que seria impossível. Hoje, a gente nunca esteve tão próximo de um
acordo.
Foi o novo interlocutor, Ricardo Miranda, ex da própria Sky,
que reduziu o desencontro?
Houve uma combinação de coisas. Acho que está claro, para os
participantes do Simba, que foi um desastre o que fizeram. Porque perderam
audiência e anunciantes. Esse é um jogo que acabou sendo ruim para todo mundo.
Afetou a gente, mas com certeza menos do que as redes abertas. Segundo, o
Ricardo chegou e deve tê-los ajudado a entender como funciona a TV por
assinatura. O desafio é monetizar, convencer o cliente a pagar.
Como foi o impacto?
O primeiro estresse foi: "Onde é que está meu
canal?". Era natural que as pessoas ligassem para perguntar. O que houve,
nos primeiros dias, foi um volume três vezes maior de chamadas para saber onde
estavam esses canais.
Passados os dias, o cara tem que tomar decisão:
"Continuo ou cancelo a assinatura?". No caso da Sky, a gente perdeu
algo como 15 mil assinantes, que alegaram estar cancelando por isso. Mas a
gente não fez disso um problema. Para quem tem seis milhões de assinantes, 15
mil, ainda que a gente não quisesse perdê-los, saiu relativamente barato.
E depois é vida que segue. A gente vai acabar chegando a um
acordo com o pessoal do Simba, eles estão mais flexíveis, mas vai ser muito
diferente do que imaginaram, uma fração. A gente nunca quis derrubar os canais.
Eles é que disseram: "Derrube, que não quero continuar no ar".
Qual é o percentual de participação do Grupo Globo na Sky?
A Globo é proprietária de 7%, mas não tem nenhuma
interferência na gestão de conteúdo ou do negócio. A relevância que a Globo
teve há 12 anos, quando era controladora, foi se diluindo. O controle é da
AT&T, que comprou a DirecTV nos EUA e é proprietária de 93% da Sky no
Brasil.
Existem canais de conteúdo nacional, nesses novos?
Olha, eles são baseados no que os assinantes queriam e não
havia demanda por canais nacionais. Mas tem canais que a Globo faz, tem novos
canais de todos os tipos. Dentro de cada um, até por questão regulatória e
legal do Brasil, você tem que ter um pedaço de conteúdo nacional. Eles abrem
oportunidade para quem quer desenvolver conteúdo para cães no Dog TV, para o
Home and Garden.
Mas o desafio hoje está muito mais nos recursos para que
você produza conteúdo nacional do que no acesso à plataforma. O cara não
consegue produzir. A maior parte do dinheiro para conteúdo nacional vinha por
incentivo [fiscal]. Com a queda de lucratividade das empresas, começa a minguar
o dinheiro. É uma coisa preocupante, para quem produz conteúdo nacional. Mas eu
acredito que, do ponto de vista sistêmico, o lançamento de novos canais vai
abrir a possibilidade e a necessidade de produção local.
Por parte dos próprios canais?
Eles terão que botar dinheiro para desenvolver conteúdo
nacional. Eles sabem disso, tanto que decidiram vir.
Sobre o Netflix e aquela frase sua, "Se começarem a
incomodar, podemos comprar esses caras no Brasil"...
Isso foi mal interpretado. Era uma brincadeira. A Netflix
nunca seria vendida numa só localidade, pela natureza do seu negócio. Agora, o
nosso negócio no Brasil é algumas dezenas de vezes o da Netflix aqui. E o
conteúdo que a Netflix entrega é, na verdade, complementar ao nosso. A Netflix
é muito mais concorrente de uma HBO ou de um Telecine do que da Sky. É uma
geradora de conteúdo. Imagina se, além de HBO e Telecine, eu pudesse vender
Netflix na Sky? Isso é uma possibilidade.
Texto e imagem reproduzidos do site: folha.uol.com.br/ilustrada
Nenhum comentário:
Postar um comentário